Prince of Persia: The Sand of Time
As adaptações de videogames para o cinema sofrem do mesmo mal que acometeu os filmes de histórias em quadrinhos: direcionamento equivocado de profissionais que não conhecem o material-base suficientemente bem para entendê-lo e extrair dele seus pontos mais fortes e mitologia. O que Hollywood enxerga ao licenciar esses produtos é apenas a base de fãs estabelecida, personagens e cenários prontos e o valor da marca.
Felizmente, depois que séries excelentes nos games geraram filmes medíocres e sem grande expressão em bilheteria, as coisas começaram a mudar. Paralelamente, editoras, distribuidoras e desenvolvedoras de games começaram a ficar tão grandes, ou maiores, que alguns estúdios de cinema. O resultado são negociações muito mais cuidadosas de marcas como Prince of Persia, que está chegando aos cinemas com o "pedigree" da Walt Disney Pictures, através da empresa de Jerry Bruckheimer e com o criador Jordan Mechner a bordo do projeto. A intenção era transformar a aventura egressa dos jogos eletrônicos no novo Piratas do Caribe, a mais lucrativa série cinematográfica do superprodutor e estúdio.
O resultado, Príncipe da Pérsia: Areias do Tempo (Prince of Persia: The Sands of Time), não esconde esses esforços. É tudo superlativo, épico, grandioso... os efeitos especiais e os valores de produção - a direção de fotografia de John Seale é primorosa! - são de primeira, exatamente o esperado de um orçamento de 200 milhões de dólares. Mais do que isso, ao entregar a direção a Mike Newell(Harry Potter e o Cálice de Fogo) os produtores já haviam de certa forma deixado claro seu interesse em fazer algo que fosse além do "blockbuster da semana", pela linha menos pirotécnica e mais romântica do cineasta.
A história segue ideias do game homônimo de 2003. Nela, Nizam (Ben Kingsley) arma o assassinato de seu irmão, Shahrman, o soberano de Pérsia, e bota a culpa no príncipe Dastan (Jake Gyllenhaal) para poder assumir o trono. Banido, Dastan tem que relutantemente juntar forças com uma bela e misteriosa princesa Tamina (Gemma Arterton) para guardar uma adaga ancestral capaz de conjurar as areias do tempo - um presente dos deuses que pode fazer voltar o tempo e dar ao seu mestre o controle do mundo.
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O grande problema do filme é a escolha do protagonista. Para viver o persa Dastan foi contratado o angelino Jake Gyllenhaal (O Segredo de Brokeback Mountain). Gyllenhaal se esforça, mas tem uma certa fragilidade lânguida no olhar que não convence muito como herói de ação. Ele quer ser o Ladrão de Bagdá de Douglas Fairbanks, mas fica mais para o Sheik de Rodolfo Valentino. Ou seja, a personagem de Gemma Arterton parece mais durona que Dastan e seus músculos torneados...
A produção se descontrola ainda no último ato, que se arrasta demais e não sabe como resolver direito os poderes da adaga do tempo. Todo o desfecho é atropelado e a ideia do retorno ao passado (o rebobinamento do filme) fica jogada sem muita lógica. Afinal, se o artefato é tão poderoso e Dastan era contra a invasão da cidade sagrada por que não o segurou mais alguns instantes para impedir o derramamento de sangue?
É curiosa também - e um tanto desnecessária - a metáfora com a Guerra do Iraque que o longa apresenta no começo. O irmão de Dastan invade uma cidade sagrada em busca de armas que, mais tarde, descobrimos não existir. A produção faz assim um mea culpa Era Obama visando agradar as audiências internacionais. Ao mesmo tempo segue com a eterna solução de colocar caucasianos para viver etnias diversas (todos os persas são vividos por norte-americanos ou ingleses e para dar um ar "exótico" à produção falam com uma inexplicável ponta de sotaque britânico). Não dava pra ficar mais bipolar que isso... mas ao menos é um bipolar bonito e cheio de ação.
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