terça-feira, 20 de julho de 2010

Crítica: Salt

A ferida aberta entre Estados Unidos e Rússia ainda não cicatrizou. Durante a Guerra Fria, ambos mostraram suas diferentes visões políticas, fazendo com que os países ao redor do mundo decidissem de qual lado ficar: direita ou esquerda; capitalismo ou socialismo. Sob essa divisão de ideologias, o mundo ainda sobrevive, na maioria das vezes debaixo de extrema violência. Mas quem são os vilões? Quem são os mocinhos? Nessa hora, nada melhor do que mergulhar a cabeça no velho dito popular: “de boas intenções o inferno está cheio”.

Ainda nesse intercâmbio institucional se encaixam as organizações secretas, o perigo de uma guerra nuclear, a iminente e tão comentada Terceira Guerra Mundial, e, para variar, Estados Unidos contra o mundo.

Não existem melhores elementos para construir um filme de ação, no qual espiões e militares “bonzinhos” querem salvar o mundo, ou melhor, o “seu” mundo. É aquele blá blá blá que a gente conhece. Porém, mesmo com tantos enredos, fica difícil não cair na mesmice do patriotismo fanfarrão, no qual um homem mata a todos que vê pela frente e ainda sai como herói.

Sendo assim, a indústria cinematográfica aproveitou a volta de Angelina Jolie aos cinemas, depois de dar um tempo e viver com a sua “ninhada”, ao lado de Brad Pitt, e a encaixou no papel que pode ser um dos melhores na vida atriz. Por estar no auge da carreira e carregar uma aura de heroína, digna de HQ, o diretor Phillip Noyce não pensou muito quando a escolheu para viver Salt.

Aproveitando o momento EUA versus Rússia, Noyce criou uma versão de James Bond com saia. No filme, Jolie vive Evelyn Salt, uma agente da CIA que é acusada de ser, na verdade, uma espiã. Ela foge na tentativa de provar sua inocência das alegações de que planeja assassinar o presidente da Rússia. Um roteiro frio e calculista no que diz respeito à incisão dos fatos.

Feito sob flashbacks, Salt conta com uma produção exaustiva, mas não menos eficiente, por conta de suas incansáveis sequências de ação. Embora seja um filme sobre espionagem, com espectros de outros roteiros parecidos, a queda para a previsibilidade não é tão sensível quanto se imagina. O filme precisa de atenção constante, pois míseros detalhes podem fazer com que o entendimento da história se perca.

O que deixou o longa mais interessante foi o fato de desenterrarem a imagem da mulher como heroína. A idéia inicial era de que o papel seria dado a Tom Cruise, o que felizmente não aconteceu.

Se em Tomb Raider Jolie mostrou que “mata a cobra e mostra o pau”, em Salt ela é uma gigante, que não demonstra qualquer tipo de fraqueza emocional, mesmo sob tortura. Ela é capaz de enfrentar os agentes mais treinados e saltar sobre caminhões em movimento sem pestanejar. Mas acima de tudo, sua personagem cativa por sua independência e pelo jeito como ela manipula com destreza todas as situações perigosas nas quais se mete.

Óbviamente, que nem tudo são flores, e assim como acontece muito com os filmes do agente 007, os responsáveis pelas diversas cenas de perseguição escorregaram na casca de banana em alguns momentos. Por conta de certos exageros, a impressão que se tem é a de que estamos vendo uma versão corporativa de Príncipe da Pérsia. Saltos surreais e situações mortais nas quais a personagem sai ilesa quase sempre são clichês dos quais filmes como esse resistem em se livrar. É compreensível, se for levar em conta que esse é um padrão seguido pela maioria das produções de aventura e ação, para tornar o protagonista mais heróico. Talvez seja uma fórmula que nunca será desperdiçada, pois entretém e a proposta é essa. Outra coisa da qual eu senti falta são as piadas, que geralmente são usadas em situações extremas, e no longa esse detalhe caberia em diversos momentos.

Quanto à música, o americano James Newton Howard assumiu a batuta, e se mostra coerente com a tensão que Salt transmite. Batman: O Cavaleiro das Trevas é um bom exemplo do trabalho do compositor que investe em trilhas mais sombrias. Escolha justa.

Para esse momento, no qual a originalidade de Hollywood está por um fio, Salt é uma generosa rota de fuga para quem quer correr da onda de remakes infernais que estão tomando os cinemas.


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