Tem filme que dá pra sacar com cinco minutos. A comédia romântica    de ação Par Perfeito (Killers) não leva dois: cena dentro    de um avião, a aeromoça oferece drinques, e na terceira fala, mais ou menos, a passageira    Katherine Heigl já  adianta que tem medo de altura, não pode com altas    emoções etc. Já  sabemos - quem viu um filme com ela viu todos - que Heigl fará    a desperate housewife tirada de sua estreita zona de conforto, mas o    diretor Robert Luketic faz questão de repisar o óbvio.
É a típica personagem tarja preta, daquelas viciadas em  antidepressivo    e remédio para emagrecer, que fala por espasmos e que  tem "crise" tatuado nos    dedos trêmulos da mão. Katherine Heigl é o  quarteto de Sex    and the City encarnado  em si, é o último refúgio no cinema daquele tipo    mais reacionário de  machismo, o que enxerga mulheres como bombas-relógios à    espera de um  príncipe com alicate que saiba a diferença entre cortar o fio azul     ou o vermelho.
Então faz todo o sentido, sob a ótica do retrocesso, que Heigl    pegue carona nesse filão estilo Sr.    e Sra. Smith. Porque quando Ashton Kutcher  entra em cena, no    papel do assassino poliglota que se apaixona pela  mocinha, ele não é apenas    o bofe de peito raspado - ele tem licença  para matar! É o perigo em pessoa,    o sedutor armado, mas que diz que  te ama logo na primeira noite (e na segunda    pede pra casar). Eis a  síntese do que as Katherines Heigls querem da vida: sonhar    com o  perigo mas ter certeza do conforto.
Em comparação, Cameron Diaz é a Xena. Faz muito bem ao    espírito crítico assistir a Encontro    Explosivo antes de se submeter a Par Perfeito. Embora machista,    o filme de James Mangold estrelado por Diaz e Tom Cruise  tem a noção    do ridículo que é defender, no século 21, o retrato  medieval dos heróis de lança    e das donzelas encasteladas. Encontro Explosivo, com o seu Cruise caricato    e uma atriz que sabe rir de si mesma, tira sarro desse herói, enquanto Par    Perfeito não apenas o idealiza como também o enquadra.
Nem Ashton Kutcher merecia isso. Katherine Heigl é um buraco negro,    absorvendo em Par Perfeito  tudo o que há de ruim no imaginário americano,    da obsessão doentia  por armas à mumificação da consciência feminina (a cena    no  estacionamento em que ela é fotografada com iluminação de Technicolor  como    uma Grace Kelly pode transformar espectadores em pedra). Evite.
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