A própria natureza do Arqueiro Verde nos quadrinhos é realmente mais próxima do Batman: ambos são ricaços que se tornam vigilantes mascarados para defender suas cidades do crime organizado. No caso de Arrow, do crime organizado financeiro. Depois de sobreviver a um naufrágio suspeito e passar cinco anos numa ilha deserta, onde desenvolve seus talentos de luta e arco e flecha, Oliver (Stephen Amell) retorna para Starling City para entender e vingar a morte de seu pai. Com uma caderneta em mãos, que contém os nomes das pessoas que estão vampirizando os recursos da cidade, ele encarnará um Robin Hood sombrio e promete cuidar de um por um.
No piloto, até alcançar o milionário Adam Hunt (Brian Markinson), Oliver passa por um "compacto" com os principais momentos de sua volta à civilização, desde seu resgate da ilha (o crânio e a máscara do vilão dos quadrinhos Exterminador aparecem como easter egg fincados em uma estaca na praia), passando pela criação de seu quartel general na indústria da família (Oliver abre sua "bat-caverna" a marretadas e em segredo), até o status atual das pessoas mais próximas (o melhor amigo agora se relaciona com a ex-namorada de Oliver, promessa de triângulo amoroso a ser desenvolvido). Flashbacks que revelam o naufrágio pontuam com dramaticidade o piloto todo.
A partir apenas deste primeiro episódio é difícil saber se as cenas de ação bem produzidas - é normal que os pilotos sejam sempre mais vistosos, afinal são eles que convencem os canais a encomendar ou não uma temporada completa de uma série - vão se manter ao longo dos capítulos seguintes, mas de cara já dá pra dizer que o Arqueiro Verde de Amell é muito mais atlético (e rápido com o arco) do que o personagem nos tempos de Smallville. Oliver salta por todo canto fazendo poses de parkour e já parece ter à sua disposição um arsenal interessante de flechas tecnológicas. É o que os fãs querem ver.
O que pode incomodar esses fãs, porém, são aquelas intrigas mencionadas no começo, os pequenos dramas dos ricos, desde a mãe de Oliver que se casou novamente até a irmã caçula de 17 anos que começa a levar uma vida de excessos, parecida com o Oliver playboy desregrado que ela tinha como modelo no passado. A subtrama que parece mais frágil no piloto é justamente aquela que deveria ser a mais forte, a relação de Oliver com sua ex, Dinah Lance (Katie Cassidy), cuja irmã morreu no naufrágio pegando o namorado de Dinah. Entre altos e baixos emocionais em 45 minutos de episódio, o rancor de Dinah se transforma em saudade, depois esperança, depois decepção, enquanto Oliver luta para ser perdoado por Dinah e ao fim do episódio parte para a clássica postura "vou fingir que ainda sou o playboy mau para afastá-la dos riscos do meu combate ao crime". É uma relação estabelecida com pressa, formulaica e previsível.
No geral, entre instantes de constrangimento e outros de boa ação, fica a impressão de que Arrow vai ser mais uma série genérica de super-herói do CW que, vez ou outra, prestará tributo a elementos consagrados dos quadrinhos. Vamos acompanhar.
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